sexta-feira, 21 de maio de 2010
Foi um número
Vi ele tantas vezes, mas não costumava olhar com atenção...
Então olhei.
Ele tinha um semblante caído meio desfalecido, mas me admirava . Foi lutador, daqueles que deviam ter sua história narrada em um filme. Mas não foi bem assim.
Ele andava por aí, pés descalços, maltratado, enfadado e cansado.
Ele parecia ter uns 45 ou 50 anos. A idade dele não me importava. Na verdade o que importa a mediocridade social? Ele tinha braços fortes, cabelos brancos e andava por aí maltrapilha, sujo.
Sua roupa era cansativamente sempre a mesma, um terno preto, uma calça daquelas de pijamas, mas ambos muito sujos. Todos os dias passava sempre pelo mesmo lugar, pelas mesmas ruas, rotineiramente nos mesmos horários.
Em um dia de calor escaldante, ele andava descalço, contanto os passos, olhando sempre para o chão. Era como se tivesse medo de enfrentar o rosto e ver olhar das pessoas.
Quando com fome estava, parava em algum lugar, catava o saco do lixo e comia, não se importava. Já não sentia cheiro, medo, vontade, nem tinha porque. A tempos não tomava banho, não sentia o prazer de estar limpo. Peregrinava o dia inteiro, uma jornada exaustiva e quando a noite chegava não tinha para onde voltar. Contentou-se com a vida. Morreu com pouco.
Vi ele com fome, sede, sem família,largado, jogado e esquecido diante da moralidade. Vi ele caído, derrubado, exausto, sentido, procurando o chão, um abrigo. Não pude fazer nada. Tive medo.
Teve família mas já não sabia quem era. Não sabia seu nome, sua idade, se teve filhos, se já foi casado.
Órgãos da cidade nunca deram atenção, passavam , olhavam e a cara viravam. Não se importavam com o cidadão.
Ele não tinha voz, não teve vez. Não acrescentou muita coisa no mundo, para as estatísticas foi mais um, mais um número. Alguém que teve fome, sede, foi pobre e assim morreu.
Ele foi embora, nunca me olhou nos olhos, nunca disse Adeus, nunca foi de verdade, nunca voltou de onde veio, nunca viveu. Morreu na cidade. Para a sociedade nunca viveu. Foi mais um número que Jesus não deu.
Chamam ele de João, outros chamam de Antônio, mas realmente não sei seu nome. Nem ele sabe. Anda por Campina Grande, o vejo quando estou indo para a faculdade.
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Mendigo, mendicante, morador de rua ou sem-teto é o indivíduo que vive em extrema carência material, não podendo garantir a sua sobrevivência com meios próprios. Tal situação de indigência material força o indivíduo a viver na rua, perambulando de um local a outro, recebendo o adjetivo de vagabundo, ou seja, aquele que vaga, que tem uma vida errante.
O estado de indigência ou mendicância é o mais grave dentre as diversas gradações da pobreza material.
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Gatonaaaa
ResponderExcluiradorei teu blog =**
Bem que me falaram que seu blog é lindo
Aninha
amor meu, sempre escrevendo sobre tudo... nunca fala so de um tema... ta tudo lindo. te amo
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