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sábado, 1 de maio de 2010

Isaura

Isaura
Vi Isaura a primeira vez quando eu tinha uns dois anos de idade, não me recordo muito bem como foi nosso primeiro encontro. Mas lembro com clareza sete dos dez anos que Isaura ficou em minha vida.
Isaura era uma mulher de uns 60 anos de idade, gorda, morena, de cabelos pretos, mas os brancos já tomavam conta dos seus cabelos crespos. Isaura tinha olhos negros como à noite e tão doces quanto à lua. Isaura foi uma dos maiores exemplos de vida viva que já tive.
Isaura trabalhava em minha casa na época em que não existia maquina de lavar roupa e o contato com as pessoas era menos sublime, Isaura era lavadeira.
Lembro-me com perfeição quando ela chegava em casa bem cedinho e eu já estava acordada com minha mãe esperando-a. De longe eu podia sentir o cheiro de fumo, já sabia que era ela. Quando ela chegava fazia um carinho em mim e cócegas em minha barriga. Minha mãe ia pegar uma pilha de roupas pra entregá-la e ela começar o “selviço”. Enquanto eu assistia algum desenho na mesa da cozinha, Isaura lavava roupa na área de serviço, ela cantava musicas que eu nunca ouvirá antes. Na hora do almoço Isaura juntava-se a nós na mesa, sempre no mesmo canto. E falava sobre seu marido, uma vez eu o vi, um homem de aproximadamente 65 anos, magro, branco, loiro, daqueles loiros que se diz sarará, ele tinha um bigode branco e meio amarelado e fumava – segundo Isaura: que nem uma caipora. Certo dia Isaura não apareceu la em casa, depois ela ligou dizendo que o seu marido havia falecido. Ela disse que ele encontrou paz e deu paz a ela. Isaura não teve filhos, a única coisa que ela tinha agora era um gato de nome estranho que dormia com ela ao pé da cama. Quando eu estava com uns 9 anos e engordei desesperadamente ela se punha a me dizer: Menina tu além de gorda vai ficar cheia de espinha só come chocolate e você vai ficar que nem eu, não vai ter ninguém que te queira, cuidado! Ai eu dava o meu chocolate a ela. Quando eu fazia alguma coisa errada e minha mãe vinha me dá uns tapinhas eu corria pra Isaura me agarrava em sua saia e ia parar embaixo da pia, e Isaura dizia: Ela não ta aqui não. Ao fim do dia Isaura pegava um pedacinho de papel e enrolava com uma coisa preta e acendia, era o fumo. Ela colocava uma sacola parecida com a de papai Noel nas costas, mas a sacola era branca não sei o que ela levava lá, ela dizia que eram sonhos. E ia embora descendo a rua ...
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Falo de Isaura hoje com carinho e com saudade dessa mulher digna de honra que pude compartilhar a melhor parte da minha infância. Uma brava mulher, sonhadora, honesta, uma trabalhadora brasileira, que como muitas outras levantam cedo e vão à luta... a todos os trabalhadores ...Feliz dia do trabalho!

2 comentários:

  1. Muito massa seu blog e as coisas que vc escreve

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  2. que texto MASS, essa isaura existiu mesmo?

    André

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